Certa vez em meu trabalho enquanto eu fazia um posto fixo (com cara de paisagem e tudo mais), lembro-me de ter visto passando por mim uma jovem mãe com sua filha (aprox. 9 anos). Vinha ela apressada e de mão dada com sua filha quando virou para trás com um sorriso no rosto dizendo: Vamos filho! Anda logo! Então vi que ela falara ao seu filho.

Era um lindo menino de uns 6 anos que caminhava com a ajuda de um andador  por  ter suas duas pernas atrofiadas. Ele sorria e caminhava. Um dos sorrisos mais lindos que vi em toda minha vida.

A motivadora voz da mãe, as fracas e atrofiadas pernas do filho, em contraste com o seu mais belo sorriso, nunca mais saíram da minha mente. Durante dias fiquei com o barulho do andador em minha mente. Lembro-me que ali mesmo chorei e me perguntaram: “Tá chorando”?  Descaradamente eu menti disfarçando: “é só o ar condicionado”.

Na verdade o que incomoda é o frio da ingratidão. Como doeu aquela lição.

Eu via alguém incapaz (convenhamos, pois é assim que costumamos ver), mas a mãe sabia o que ele poderia oferecer. A mãe sabia que ele poderia caminhar ao lado e no mesmo ritmo. É assim. Quem ama não vê o defeito. Quem ama ignora as limitações. Quem ama te desafia para que você desenvolva teu melhor. Quem ama só olha para trás se for para buscar o que o tempo insiste em querer roubar de nós.

Enquanto eu pensava que era uma mãe ingrata, que sequer diminuía os passos para ser alcançada pelo filho,creio que ela pensava:

“A ultima coisa que eu aceitarei é tratar meu filho como um coitadinho”.

Precisamos desse olhar de mãe. Deveríamos ver as pessoas sob esta ótica e não simplesmente pela aparência. Cada vez me convenço que a nossa sensibilidade às vezes é vazia e sem sentido.

Por outro lado, criamos tantos obstáculos para as coisas, enquanto alguns celebram o simples fato de um andador de aço os tornar semelhantes ao próximo.

Se eu pudesse, naquele dia diria: “Menino! Não queira ser igual a nós, pois já provou que é infinitamente melhor”!

Portanto sorria! Sorria quando alguém te disser: “Anda logo”!

Certamente esse alguém acredita em você. Se você estiver sendo exigido não reclame, pois muitas vezes quem muito te exige é porque não vive sem você.

Que Deus nos ensine a ter esse olhar de uma mãe. Que Deus nos ensine ter a gratidão, a sinceridade e a motivação de uma criança.

Enquanto ele ria eu chorava. Quem é o deficiente da história?

                                    Elias Miranda